Trauma e TEPT (Transtorno de estresse pós traumático)

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Trauma e TEPT (Transtorno de estresse pós traumático)

Trauma e TEPT (Transtorno de estresse pós traumático)

O ser humano passou e continua passando por diversas situações traumáticas ao longo de sua existência, como catástrofes, epidemias e guerras. Todos esses momentos se tornaram importantes para o desenvolvimento histórico da humanidade.

Quando uma pessoa passa por um momento traumático, experiencia uma tensão extrema, um estresse muito forte que pressupõe uma situação de extremo perigo, além de qualquer experiência humana que ela já tenha vivido.

Segundo Erickson, o trauma pode ser considerado um golpe que abala as defesas psíquicas de forma tão repentina e com tanta violência, que o organismo pode não reagir de maneira eficiente.

A instalação do trauma ocorre quando o indivíduo ultrapassa sua tolerância à tensão, podendo passar por um processo de profunda desorganização interna. Sua causa se dá por um evento estressante, sendo marcante e perturbador para a maioria das pessoas.

Para Freud, os traumas são as principais causas das neuroses. São experiências impactantes, principalmente de algo visto e ouvido, que geram sintomas de grande intensidade psíquica. Quando vividos na infância, se tornam responsáveis pela formação do caráter do indivíduo, podendo se manifestar como inibições e fobias.

Mais de dois terços da população mundial são expostos, ao menos uma vez na vida, a um evento traumático. A resposta mais comum a um fator estressante é a ansiedade, caracterizada como sendo uma emoção desagradável de apreensão, preocupação, tensão e principalmente medo.

Embora a agressão seja o padrão de resposta ansiosa, é comum também acontecer o oposto, como retraimento e a apatia, podendo tornar-se sintomas de depressão. Essas emoções são sentidas, em maior ou menor grau, por todas as pessoas quando passam por situações ameaçadoras.

A Reação Aguda ao Estresse, segundo a Classificação Internacional de Doenças, décima revisão (CID-10), é o transtorno transitório que ocorre em seguida a um estresse físico e/ou psicológico excepcional – quando o indivíduo não apresenta nenhum outro transtorno mental manifesto – e que desaparece habitualmente em algumas horas ou em alguns dias.

No momento imediato ou logo após passar por uma experiência traumática, os sintomas mais comuns são: ansiedade, o estado de aturdimento, a desorientação parcial e as alterações vegetativas.

Podem ainda surgir sintomas dissociativos, neste caso o diagnóstico mais provável é o de Reação Aguda ao Estresse. Sua ocorrência e gravidade são influenciadas por fatores de vulnerabilidade individual e pela capacidade da pessoa de superar o trauma

A resposta de uma pessoa a um evento estressor pode ser positiva ou negativa, dependendo de fatores como a estratégia utilizada para enfrentar essa situação, a maneira como ela irá se instalar na memória da vítima, a natureza da causa, a periodicidade e a previsibilidade do estímulo, a gravidade e o grau de desconforto que o mesmo proporciona, além do histórico prévio de trauma.

Entre os eventos que são considerados potencialmente traumáticos estão: terremotos, inundações, guerras, acidentes nucleares, colisões aéreas ou automobilísticas, estupros, seqüestros, tentativas de assalto e assassinato, eventos que se caracterizam pela falta de controle e pela forma como desafiam os limites físicos, emocionais e cognitivos da capacidade humana.

Sabe-se que, independente de quão assustador o evento adverso possa parecer, nem todas as pessoas o assimilam como traumático, pois é a percepção que o indivíduo tem da situação e sua capacidade de enfrentamento que vão determinar se será ou não um trauma.

Em meados do século XX, a partir da Segunda Guerra Mundial, o TEPT (Transtorno do Estresse Pós Traumático) foi incorporado ao grupo dos Transtornos de Ansiedade, sendo caracterizado como um conjunto de sintomas decorrentes da experiência traumática, direta ou indireta, de um evento, real ou imaginário, o qual representa uma ameaça à integridade física do próprio indivíduo ou à de outras pessoas.

O Manual Diagnóstico e Estatístico da Academia Americana de Psiquiatria (APA, 1994), versão IV (DSM-IV), classifica como TEPT Agudo o conjunto de sintomas decorrentes da experiência de um evento traumático que persiste por um período inferior a 3 meses.

Se a persistência desses sintomas se prolongar por um período maior, a classificação é de TEPT Crônico. Além disso, o TEPT pode também ter um início tardio, cerca de seis meses após a ocorrência do evento.

Esse manual funciona como um sistema diagnóstico e estatístico de classificação dos transtornos mentais e, segundo dados coletados, os sintomas mais característicos do TEPT são:

– Revivência persistente do evento traumático, podendo também ocorrer ilusões e alucinações sobre o evento (flashbacks);
– Esquiva persistente dos estímulos associados ao trauma;
– Embotamento geral da responsividade;
– Restrição de afeto;
– Perda de perspectiva para o futuro;
– Sintomas de excitação aumentada.

Os estudos também mostram que pacientes com TEPT frequentemente apresentam outros problemas como: transtorno do pânico, agorafobia, transtorno obsessivo compulsivo, fobia social e específica, depressão e, ainda, transtornos relacionados ao uso de substâncias. Não se sabe até que ponto estes transtornos se iniciam antes ou depois do TEPT.

O tratamento de traumas e TEPT deve ser conduzido por um profissional da área, que poderá diagnosticar o paciente, bem como os sintomas secundários atrelados ao transtorno inicial.

Tanto a psicoterapia como as técnicas de terapia breve como o EMDR, tem se mostrado muito eficientes na melhora dos sintomas, inclusive quando associadas à medicação.

Texto baseado na tese de Doutorado “Tratamento Para Transtorno Do Estresse Pós-traumático Com A Técnica Emdr® (Eye Movement Desensitization And Reprocessing): Seus Efeitos Nos Aspectos Psicológicos, Cognitivos E Na Arquitetura Do Sono” de Mara Raboni, Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, 2010.