Você sabe realmente o que é Resiliência?

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Resiliência

Resiliência

Podemos dizer que o termo estresse está um tanto quanto banalizado atualmente, aplicado a situações de cansaço e exaustão após um longo dia de trabalho, ou à necessidade de realizar várias tarefas num curto espaço de tempo. Nesses casos, uma boa noite de sono ou um final de semana de descanso resolveriam o problema.

O estresse é, na verdade, uma reação natural do corpo que produz mudanças emocionais, fisiológicas e comportamentais quando precisamos enfrentar uma situação que desafia nossos limites. Ele está presente em todos nós e exerce uma grande influência no nosso comportamento.

Quando se apresenta de forma positiva, ele nos dá a motivação necessária para encarar um desafio. No entanto, quando é excessivo, pode provocar alterações emocionais, cognitivas, comportamentais e sociais, prejudicando a vida de quem sofre com seus efeitos.

É certo que todos nós teremos que enfrentar alguma situação desafiadora em algum momento de nossas vidas e, de todas as pessoas que já passaram por elas, grande parte pode superá-las, aprender com elas e continuar seguindo adiante.

Entre essas pessoas, há uma característica em comum: a resiliência, ou capacidade de se adaptar às mais diferentes adversidades, sem descartar o problema e criando novas possibilidades e soluções para resolvê-lo.

Ser uma pessoa resiliente não significa que não haverão angústias, sofrimentos ou que a pessoa se torna invulnerável. A diferença está em como administrar os desafios para que não desencadeiem um TEPT ou outras doenças.

Seu processo de formação acontece ao longo da vida e é influenciado, principalmente, pelo ambiente social e familiar no qual a pessoa se desenvolveu.

Estudo apontam que quanto mais afetivo e receptivo esse meio for, melhor o seu desenvolvimento intelectual e maior o grau de autoestima e autocontrole, o que promove características como sociabilidade, criatividade para a resolução de problemas e os sensos de autonomia e de proposta, típicos da resiliência.

Outros fatores como crença religiosa ou espiritual, empatia e treinamento técnico também podem interferir nessa construção, criando diferentes níveis de resiliência em cada indivíduo.

Mesmo sendo uma capacidade formada nos primeiros anos de vida, a resiliência também pode ser desenvolvida depois de adulto, com atitudes positivas e flexíveis que permitirão enxergar os problemas sob uma nova perspectiva.

Além da resiliência, existem outras estratégias adaptativas que aumentam a resistência ao estresse, chamadas de coping. Essas estratégias consistem em ações que aumentam, criam ou mantêm a percepção de que a pessoa está no controle, amenizando os sintomas do estresse e recuperando o equilíbrio interno.

Antigamente, o coping era muito usado após um evento traumático, visando o restabelecimento da vítima. Hoje em dia, ele já é visto como uma ferramenta que pode ser aplicada a todos, antes mesmo de qualquer trauma acontecer, fortalecendo o indivíduo e minimizando os efeitos do estresse.

Segundo o modelo de Lazarus e Folkman, que atualmente é o mais difundido, existem duas classificações principais de coping, divididas de acordo com os tipos de enfrentamento: o coping focado no problema, na qual se procura uma solução para a situação específica e como evitá-la futuramente; e o coping focado na emoção, buscando alívio ou mudança das emoções associadas à situação que causou o estresse.

Os autores também propuseram uma investigação mais detalhada de outras possíveis estratégias, as quais foram classificadas em oito domínios:

– Confronto (choque de idéias ou posições para enfrentamento direto, sem flexibilidade ou concessões);
– Afastamento (distanciamento intencional ou negação para evitar contato com a situação);
– Autocontrole (esforços para controlar os sentimentos e as ações diante da situação);
– Suporte social (buscar informações e ajuda com outras pessoas);
– Aceitação de responsabilidade (reconhecimento da própria participação no problema e os esforços para colocar as coisas em ordem);
– Fuga e esquiva (pensamentos de desejo e os esforços comportamentais para escapar ou evitar o problema);
– Resolução de problemas (analisar uma forma de alterar a situação e solucionar o problema);
– Reavaliação positiva (reinterpretar as situações adversas e passar a vê-las como favoráveis e benéficas).

Da mesma maneira que a resiliência, a estratégia escolhida dependerá de fatores como experiências anteriores, o que está causando o estresse, o contexto da situação, as crenças do indivíduo, sua capacidade de resolver problemas, o apoio social, entre outros.

Normalmente, várias estratégias de coping são utilizadas simultaneamente, tendo cada uma seu papel na resolução do problema e no controle e equilíbrio das emoções.

O coping não é um comportamento adaptativo automatizado, mas um método consciente para encarar a situação estressora da melhor maneira.

Texto baseado na tese de Doutorado “Tratamento Para Transtorno Do Estresse Pós-traumático Com A Técnica Emdr® (Eye Movement Desensitization And Reprocessing): Seus Efeitos Nos Aspectos Psicológicos, Cognitivos E Na Arquitetura Do Sono” de Mara Raboni, Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, 2010.