EMDR® (Eye Movement Desensitization Reprocessing)
Na vida, estamos suscetíveis a passar por momentos de dor, perdas, crises e até casos de violência, com índices cada vez mais altos de registro. Associados a essas eventualidades, estão os traumas e os transtornos do estresse pós-traumático (TEPT) , que se manifestam nas vítimas após essas experiências perturbadoras.
Quanto maior o nível de tensão pela qual a pessoa passa, mais difícil é para ela se integrar novamente ao padrão social, adquirindo comportamentos desajustados que são justificados pela necessidade de adaptação e sobrevivência, podendo o TEPT ser um exemplo desta má adaptação.
Mesmo com tratamento terapêutico convencional, alguns pacientes continuam sofrendo com os sintomas, que se podem se intensificar no período próximo ao aniversário do trauma, relatando uma sensação de aprisionamento ao passado e de que, a qualquer momento, algo ruim vai acontecer.
Nesses casos, uma abordagem terapêutica muito eficaz no tratamento dos sintomas do TEPT é uma técnica chamada EMDR (Eye Movement Desensitization Reprocessing®) desenvolvida em 1987 por Francine Shapiro.
Atuando como uma terapia de reprocessamento, o EMDR consiste na estimulação bilateral, que pode acontecer por música, movimentação dos olhos de um lado para o outro, ou do tapping, leves batidas feitas de forma rítmica sobre os joelhos do paciente.
A hipótese para explicar os efeitos do EMDR é que esse tipo de estimulação ativa um mecanismo fisiológico que ajuda no processamento daquele evento e na sua assimilação, aliviando os sintomas sentidos anteriormente.
No momento em que aplicamos o EMDR, as ondas cerebrais do paciente se assemelham àquelas que ocorrem durante o sono REM, que é nosso estágio de sono mais profundo. Nesse estágio é possível para o paciente integrar o episódio traumático à sua memória sem o sofrimento emocional que sentia anteriormente.
É como se ele pudesse voltar no tempo e processar o ocorrido de uma forma diferente, mantendo a lembrança em sua memória mas sem que esteja atrelada aos sentimentos ruins.
Essa técnica tem se mostrado muito eficiente, inclusive nos estudos realizados com o EMDR, muitos pacientes apresentaram uma melhora considerável nos sintomas de depressão e ansiedade, normalmente associados ao trauma tratado.
Em um dos estudos, feito com 32 crianças vítimas de um furacão no Hawaí, que sofriam de TEPT e não haviam respondido a um tratamento prévio, mesmo após 3 anos e meio do trauma, os terapeutas notaram melhoras significativas nos sintomas de ansiedade e depressão com somente 3 sessões de EMDR, estas se mantendo estáveis por até seis meses após o tratamento.
Além de ser um tratamento que age de forma rápida e eficiente, alguns pacientes continuam a apresentar sinais de melhora progressiva por até 15 meses após a conclusão das sessões.
Independente de qual seja o mecanismo exato responsável por produzir o efeito do EMDR, é a ativação do sistema de processamento acelerado das informações que proporciona o foco clínico para o tratamento, resultando em um descondicionamento da resposta ao medo diante do evento estressor e permitindo uma retomada dos padrões básicos de ativação.
Texto baseado na tese de Doutorado “Tratamento Para Transtorno Do Estresse Pós-traumático Com A Técnica Emdr ® (Eye Movement Desensitization And Reprocessing): Seus Efeitos Nos Aspectos Psicológicos, Cognitivos E Na Arquitetura Do Sono” de Mara Raboni, Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, 2010.