Como as emoções afetam nosso corpo

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Como as emoções afetam nosso corpo

Como as emoções afetam nosso corpo

Durante muito tempo imaginou-se o corpo e a mente como duas coisas distintas que funcionavam de maneira separada, independentes uma da outra. Essa era considerada uma visão dualista do organismo.

No entanto, esse conceito dualista já havia sido debatido até mesmo por Hipócrates, considerado “pai da medicina” (por volta de 400 a.C.), que defendia a ideia de que seria impossível observar as partes do corpo independentemente, tirando-as do todo, e que o organismo funcionaria em uma unidade organizada onde mente e alma teriam função reguladora.

Essas duas diferentes visões sobre o funcionamento do corpo humano e, consequentemente, sobre o surgimento de doenças baseou estudos e teorias por séculos, com defensores e questionadores de cada um dos lados.

A introdução dos estudos psicanalíticos foi um dos principais suportes para a determinação de que disfunções orgânicas poderiam ter origem em distúrbios psíquicos. O médico alemão Johann Christian August Heinroth foi o primeiro a usar o termo “psicossomática”, em 1818, considerando que fatores psicológicos poderiam influenciar nas patologias.

Freud apontou esse conceito de somática em seus estudos sobre histeria (em 1895), onde mulheres que não possuíam qualquer lesão física apresentavam incapacidade de andar ou ver. Ao tratar o trauma que haviam sofrido, e até então sem qualquer relação com as incapacidades físicas, estas eram amenizadas.

Já no século passado, em 1930, os estudos de Franz Alexander consolidaram a psicossomática e defendiam que as doenças orgânicas poderiam ser, basicamente, uma resposta fisiológica excessiva gerada por uma tensão emocional crônica.

Para Alexander, as emoções causam reações fisiológicas que duram um determinado período e depois se regularizam. As patologias poderiam ter origem em uma condição emocional reprimida que gerou essa reação fisiológica, mas que em alguns casos, se mantêm constantes.

Por exemplo, ao sentirmos medo, liberamos diversos hormônios que fazem com que nosso corpo se prepare para aquela situação: o coração bate mais rápido, bombeando mais sangue, o suor regula nossa temperatura interna e nossos sentidos se aguçam, nos deixando mais atentos. Após um tempo, nosso corpo entra novamente em homeostase, ou seja, volta ao seu equilíbrio.

No entanto, algumas emoções podem ser mais difíceis de lidar, e a maneira que encontramos naquele momento é reprimindo ou ignorando o que estamos sentindo. As doenças físicas aparecem como uma forma de chamar a atenção para o que está acontecendo no nosso inconsciente.

Um transtorno psicossomático pode ser entendido, então, como um sintoma ou doença que não possui correlação ou explicação física ou orgânica, sendo atribuído à mente.

Essa somatização pode acontecer também em casos de estresse, ansiedade, medo, depressão e angústia crônica, que estão constantemente alterando nossos níveis hormonais e desencadeando reações fisiológicas.

António Damásio, um dos principais nomes relacionados à medicina e neurociência da atualidade, tem como um dos grandes objetos de estudo o cérebro e as emoções humanas. Para ele, a emoção é algo extremamente difícil de se definir, recorrendo a explicação de “um conjunto de respostas químicas e neurais que formam um padrão distinto”.

Normalmente, quando sentimos alguma dor física, procuramos um médico para que possa identificar qual o problema naquele local. No entanto, no caso das doenças psicossomáticas, o diagnóstico não é tão simples, pois suas causas estão associadas à mente, não ao órgão afetado.

É preciso, primeiro, eliminar todas as possibilidades de qualquer outra doença para, então, dar o parecer de que a causa é emocional. Nesse caso, é feito o encaminhamento para um psicólogo para dar continuidade ao tratamento.

Essas doenças são como uma válvula de escape do inconsciente que está tentando lidar com tudo da melhor maneira possível no seu entendimento. Não há razão para se culpar por um transtorno psicossomático, uma vez que a partir dele, também podemos aprender e nos conhecer mais profundamente.

Trabalhar a inteligência emocional é uma forma de aceitar nossos sentimentos e emoções e saber como integrá-los no consciente. O autoconhecimento e o tratamento de traumas do passado também são fundamentais para prevenir doenças. Nesse caso, o acompanhamento de um psicólogo ou terapeuta pode ajudar muito.

Existem, atualmente, diversas técnicas de terapia como o EMDR, TFT, EFT e TAT, além da própria psicoterapia, que auxiliam no tratamento de traumas e distúrbios pontuais, melhorando a qualidade de vida do paciente e reduzindo as chances de desenvolver uma doença psicossomática.

Fontes:

Cruz, Marina Zuanazzi; Pereira Júnior, Alfredo. Corpo, mente e emoções: referenciais teóricos da psicossomática. Simbio-Logias, v. 4, n. 6, p. 46-66, 2011.

FREIRE, Luís. Alexitimia: Dificuldade de expressão ou ausência de sentimento? Uma análise teórica. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília , v. 26, n. 1, p. 15-24, Mar. 2010 .

VOLICH, Rubens Marcelo. Psicossomática: de Hipócrates à psicanálise. 6ª Edição. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.